Gosto de avaliar um filme por vários aspectos, um deles é o toque humano e sentimental que ele nos conta e a maneira como esse olhar vai percorrer o enredo. Recentemente, a Netflix lançou uma das obras mais lindas e delicadas em seu catálogo; O Menino que Descobriu o Vento. A longa baseada em fatos reais diz muito sobre a força da união familiar e o poder da resiliência frente às adversidades.
O filme conta a história da família Kamkwamba, que vive de plantações de grãos em uma vila agrícula de Malaui. Com um cenário humilde e bem aberto, o filme vai focando especialmente no personagem Willian, um garotinho de 13 anos que ao ter que deixar a escola por falta de dinheiro, começa procurar jeitos de ajudar sua família e ao mesmo tempo um vilarejo inteiro que passa por uma crise de fome por conta da ambição humana. Willian é um personagem cativante e criativo, passa por vários desafios e descobre que tem uma afinidade enorme com a engenharia elétrica, ele usa todos os recursos que tem, mesmo que limitados, para construir uma turbina eólica que salva um vilarejo inteiro da fome inevitável que assolava o vilarejo que vivia.
Tudo vai sendo contado de forma verdadeira e sincera, o que pode ser mais verdadeiro que a Africa no seu auge da seca e fome?

Detalhes reveladores nos mostram olhares angustiantes sobre uma outra perspectiva, afinal, é 2001 na Africa, os Estado Unidos acabara de sofrer um ataque terrorista, e a flecha da economia não estava voltada para os vilarejos pequenos de um dos continentes mais pobres do mundo.
Chiwetel Ejifor, o ator indicado ao Oscar que protagoniza e dirige o filme com uma maestria louvável, mostra aspectos geográficos e culturais impressionantes, e não minimiza as dificuldades que o povo do vilarejo (e da maior parte da Africa) lamentavelmente sofre. São apontadas questões politicas de forma crua, com olhares duros diante de um governo corrupto. Ao mesmo tempo, o enredo mostra a importância de se ter uma voz que te represente mesmo que custe a sua vida, e mais que isso, diz que um povo unido é um povo mais forte e resiliente aos desafios impostos.